A importância da perícia e inspeção condominial na engenharia

Um mercado promissor com uma ampla gama de serviços

Um engenheiro formado recentemente ou mesmo aquele com muitos anos de atuação tem grande oportunidades para se desenvolver profissionalmente. E ele não se limita apenas ao desenvolvimento de projetos. A perícia de engenharia e as inspeções prediais surgem como boas alternativas para ampliar horizontes.

Muitos profissionais não se dão conta da importância destes dois segmentos da engenharia, onde é vasta a gama de serviços. Mas não pense que chegar a esse patamar é tarefa fácil. Tem grande potencial, mas é seletivo. É o que explica o engenheiro civil Álvaro Ling Junior, um dos profissionais habilitados e capacitados na região.

Engenheiro há 26 anos, com formação pela Universidade Regional de Blumenau (Furb), Álvaro trouxe sua experiência dos canteiros de obras para prospectar esse nicho de mercado, incluindo ainda a inspeção predial. Tem em seu curriculum mais de 300 nomeações como perito. Em Blumenau e região, são cerca de 28 profissionais capacitados para atuar como neste segmento da engenharia.

Sem regulamentação

Ao analisar o mercado, Álvaro manifesta algumas preocupações uma vez que não existe regulamentação para se tornar perito. Basta a formação profissional em qualquer um dos campos de conhecimento da engenharia. “Mas é preciso ter tempo de estrada e conhecer bem a execução de projetos, mas principalmente experiência no canteiro de obras. Hoje o que se vê são novos engenheiros ingressando nesse mercado apenas com teorias. Esse despreparo preocupa”, lamentou.

No Brasil, a oferta de especialização em perícias é limitada. A principal referência é o Instituto Brasileiro de Avaliações e Perícias de Engenharia (IBAPE), com de em São Paulo e base em 18 estados brasileiros.

Eventualmente são realizados cursos de engenharia diagnóstica. O que é insuficiente na análise do engenheiro Álvaro Ling Junior. Exige estudo e aperfeiçoamento profissional contínuo. Além dessa especialização, concluída há sete anos, o engenheiro fez cursos extensivos e em breve fará mais uma especialização.

Mesmo com a falta de regulamentação da atividade, existem condições indispensáveis que devem ser cumpridas por um perito: Conhecimento profundo da área em questão, extensa vivência prática e completo domínio dos fundamentos teóricos.

Não é o perito que escolhe a própria área de atuação. Ela é moldada por toda a sua vida profissional e onde ele demonstra domínio. A atuação de perito judicial é extremamente exigente. O perito é o “olhar técnico” do magistrado. Sua atuação terá impacto direto na vida das pessoas e das empresas, mediante o conteúdo do laudo pericial que vai para as mãos do magistrado.

Uma vez não apresentando um laudo pericial bem fundamentado, objetivando subsidiar o magistrado em sua sentença, este perito poderá ter seu nome excluído do rol de profissionais credenciados pelo poder judiciário.

O que faz o perito?

O perito investiga a causa, a patologia de um problema e na maioria das vezes, apresenta soluções. Ele pode ser contratado por um condomínio, uma empresa ou qualquer cidadão comum. Se habilitado para tal, um engenheiro perito também pode dar suporte ao poder judiciário, quando nomeado por um juiz. Após investigações e testes, esse profissional emite laudos periciais que serão juntados ao processo. 

Existe um limite na atuação do perito. Ele está previsto no artigo 453 do Código de Processo Civil (CPC), assinalando que seu papel é responder questões que são colocadas pelo juiz e também pelos advogados das partes.

Ensaios fazem parte da rotina do perito. Em Blumenau, os peritos contam com apoio de uma empresa privada e do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) da Furb.

Inspeção preventiva

Além das perícias, Álvaro atua em inspeções prediais. Contar com a consultoria de um profissional de engenharia especializado é vantajoso, pois permite planejar e assegurar tecnicamente as obras num condomínio. “Ao listar prioridades, e se fazer cumprir as normas técnicas o trabalho fica mais fácil”, explicou o profissional.

O IBAPE recomenda que edificações até 20 anos passem por inspeção a cada cinco anos. Se tiver entre 21 e 30 anos, o ideal é promover inspeções a cada três; de 31 a 50 a orientação é executar a inspeção de dois em dois anos e anualmente quando a construção tem mais de meio século. Em obras públicas, de entretenimento, industriais e outras de caráter não residencial, recomenda-se análise a cada três anos.

Resistência do mercado

As regras para inspeção predial seguem a NBR 16.747 (Inspeção predial – Diretrizes conceitos, terminologia e procedimento), de maio de 2020. Mas existe resistência por parte dos condomínios por achar o custo alto e que uma simples reforma resolveria. “Contratam um pedreiro e até síndico se acha competente como engenheiro, confundindo que, sua função num condomínio é a gestão do mesmo. Muitas vezes fecha uma fissura ou trinca com “cimento” ocultando uma manifestação patológica que pode ter como origem estrutural”, comentou.

O início de obras, como ampliações, reformas e restauros num condomínio consolidado deve obedecer a NBR 16.280 (Reforma em edificações – Sistema de gestão de reformas – Requesitos), com regramento na sua gestão. Isso vale no caso de prédios para áreas comuns e apartamentos. “Imagine um prédio de 40 apartamentos, onde se faz reformas em vários apartamentos aumentando sua sobrecarga. Ou então se remove paredes e até elementos estruturais. Sem uma avaliação prévia e acompanhamento técnico o risco é grande”, alertou Álvaro.

Execução, falta de treinamento e desqualificação da mão de obra são os maiores fatores de incidência de problema. Descolamento de revestimento cerâmico cobrimento de armadura do concreto, problemas no reboco com fissuras são as não conformidades mais observadas. “Obras vão envelhecendo e ninguém faz manutenção”, revelou.

Custo aumenta

A cultura de esperar dar problema e depois resolver implica em aumento de custo que pode ser 125 vezes a mais (Lei de Sitter). É raro algum condomínio fazer a manutenção preventiva corretamente, seguindo orientações técnicas.

Em obras públicas, as inspeções frequentes e manutenção preventiva é quase inexistente. Nos últimos anos, a cidade de Blumenau vivenciou três casos que foram analisados pelo perito: um muro que vitimou um jovem na Itoupava Norte, parte de muro na Via Expressa que deixou outro jovem gravemente ferido e mais recentemente o desabamento de uma caixa d´água num condomínio habitacional popular no bairro Garcia.

As pontes e obras complementares, como alças e túneis na cidade e seus acessos também são motivo de preocupação. Na área industrial, a manutenção predial é ainda mais complexa em razão da necessidade de paralisar a produção.

Álvaro salienta que um nicho muito interessante e deficitário é mão de obra treinada, qualificada e especializada na execução de obras nestas áreas. Faltam empresas.

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