Busto de Emílio Baumgart foi transferido da Fonte Luminosa para Praça Hercílio Luz
O monumento que homenageia o engenheiro blumenauense Emílio Baumgart, considerado o “Pai do concreto armado” no Brasil, foi revitalizado e transferido para a Praça Hercílio Luz.
A iniciativa do translado do monumento para o novo local, brotou do coração da sociedade blumenauense. O casal Odebrecht, Rolf (In memoriam), já com 99 anos de idade, e Renate, comentaram entre amigos que o busto do ilustre blumenauense estava num local considerado invisível e inacessível.
Essa manifestação do casal Odebrecht chegou ao conhecimento do então prefeito Mario Hildebrandt, de outras lideranças e profissionais de engenharia, e ainda ao primo de segundo grau de Baumgart, o cartorário Otto Baier. Na ocasião deste encontro, num evento da cidade, estes líderes decidiram encontra um local mais apropriado e promover o translado do monumento.
E assim optou-se pela mudança para Praça Hercílio Luz, num ponto estratégico, mais visível para apreciação dos blumenauenses e visitantes.
Visita ao monumento
A diretoria da AEAMVI visitou o busto em seu novo espaço. O presidente Ewerson Lombardi e o conselheiro Evandro Luiz Schuler estiveram na Praça Hercílio Luz, acompanhando Renate Odebrecht e sua filha Júlia.
Ao falar da trajetória de Emílio Baumgart, Renate Sybille Odebrecht lembrou que ele enriqueceu a tecnologia do concreto armado, desenvolvendo inclusive fórmulas próprias, consagrando-se como o “Pai do concreto armado” no Brasil.
Ewerson Lombardi, presidente da AEAMVI, ressaltou que o translado do monumento para Praça Hercílio Luz permitirá que mais pessoas conheçam o destacado trabalho de um profissional que inovou a engenharia. Para a entidade, é importante essa homenagem a um engenheiro, valorizando suas ideias, espelho para os profissionais. “Muitos engenheiros aplicam as fórmulas matemáticas de Emílio Baumgart na concepção de seus projetos. Sem ele, nada disso seria possível”, relembrou.
AEAMVI iniciou o movimento pela homenagem nos anos 60
O movimento para perpetuar o legado de Emílio Baumgart, iniciou em 1964, por iniciativa da AEAVI, hoje AEAMVI – Associação dos Engenheiros e Arquitetos do Médio Vale do Itajaí. Em 18 de junho daquele ano, o também engenheiro Wlasdilau Rodacki, presidente da AEAVI na época, encaminhou ofício ao prefeito Hercílio Deeke, solicitando uma homenagem, com estátua de bronze em praça pública ao notável profissional, com obras marcantes em todo Brasil.
A ideia, porém, somente se tornou realidade em 1970, sob a liderança da Sociedade Amigos de Blumenau. Em solenidade realizada 11 de dezembro, quando é comemorado o Dia do Engenheiro, houve a entrega do busto em bronze, de autoria o escultor Aureliano Fernandes, medalha de prata do Salão Nacional e também autor do busto do Padre José Maria Jacobs, primeiro vigário de Blumenau. O pedestal foi projetado pelo arquiteto Érico Fadei e a execução da obra de responsabilidade de firma Hayaschi & Cia.
O monumento foi erguido junto a Praça Marechal João Baptista Mascarenhas de Moraes, mais conhecida como Fonte Luminosa, no entroncamento da rua Sete de Setembro com a rua Amazonas. A face do busto estava direcionada para a área de terras onde a Família Odebrecht residiu e empreendeu, ajudando ainda com o desenvolvimento daquela localidade.
O monumento permaneceu no local até o início deste ano, quando ocorreu o translado para a Praça Hercílio Luz, no Centro Histórico de Blumenau, defronte a antiga Prefeitura e que hoje abriga a Secretaria de Cultura e Relações Institucionais.
A inauguração do monumento
A Biblioteca Pública Municipal Dr. Fritz Muller, da Sociedade Amigos de Blumenau, foi a organizadora da homenagem, representando a Prefeitura de Blumenau. Era presidida pelo ex-prefeito José Ferreira da Silva. A entidade enviou ofício ao presidente Wladislau Rodaki, solicitando o apoio da AEAVI, parceira do projeto, no envio dos convites às entidades de classe, além de organizar a programação e a indicação de orador oficial.
A inauguração contou com a presença do prefeito Evelásio Vieira e de outras autoridades, filha, irmãos e demais parentes do homenageado. José Ferreira discursou e entregou o monumento à cidade, em nome da Sociedade de Amigos de Blumenau e do município. Pela AEAVI, falou o Antônio Victorino Ávila Filho, o primeiro presidente da entidade. Por fim, falou Curt Baumgart, sobrinho do homenageado, agradeceu em nome da família.
Saiba mais sobre o Pai do concreto armado
O engenheiro blumenauense Emílio Henrique Baumgart, nascido Emil Heinrich Baumgart (1889-1943), filho de imigrantes alemães, é o nome mais importante na era do concreto armado no Brasil. Ele iniciou seus estudos em Santa Catarina, e em São Leopoldo, no Rio Grande do Sul. Mudou-se para o Rio de Janeiro em 1911, onde ingressou na então Escola Politécnica (atual Escola Politécnica da UFRJ). Custeou seus estudos lecionando no Ginásio São Bento e trabalhando na construtora L. Riedlinger, precursora da Companhia Construtora Nacional.
Formou-se Engenheiro Civil no ano de 1919 e lecionou no curso de Arquitetura na Escola Nacional de Belas Artes, ministrando a disciplina de “Sistemas e detalhes de construção, desenho técnico, orçamentos e especificações” no ano de 1931. Baumgart foi o segundo professor titular desta cadeira, onde se estudava a “estereotomia do ferro, da madeira, os seus diferentes sistemas de construção, aplicações e detalhes de esquadrias, tesouras, estruturas metálicas, concreto armado e suas aplicações, desenho técnico orçamento e especificações”.
A construtora que fundou em 1923, responsável pela construção do Cine Capitólio, não teve sucesso. Faliu após dois anos de sua fundação. Emilio retirou-se do ramo da construção, focando-se como projetista de estruturas até o final de sua vida. Montou no Rio de Janeiro, em 1925, a primeira firma de projetos de estruturas em concreto armado do Brasil.
Emílio Henrique Baumgart destacou-se como engenheiro projetista inovador, vindo a receber o título de “Pai do concreto armado” pelos profissionais do ramo no Brasil. Morreu com a idade de 54 anos, vítima de ataque cardíaco, ao sair de casa para o trabalho.
O profissional nos deixou com uma longa lista de obras notáveis, formando uma escola com seguidores igualmente ilustres, como Antônio Alves de Noronha, Paulo Fragoso, Arthur Jerman, Sérgio Marques de Souza, entre outros.
Seus principais projetos estruturais
Os projetos de estruturas de Emílio Henrique Baumgart abriram caminhos para uso do concreto armado, tendo sido autor do projeto de estruturas de obras pioneiras da engenharia brasileira. Dois de seus projetos tiveram significado mundial: o Edifício A Noite, na praça Mauá no Rio de Janeiro. Construído no final da década de 20, com 24 andares, se tornou o mais alto do mundo. E ainda a ponte sobre o Rio do Peixe, entre Herval d’ Oeste e Joaçaba, hoje denominada Emilio Baumgart.
A ponte contava com o maior vão livre conhecido no período de sua construção, entre 1929 e 1930 (68,50 metros), utilizando um método revolucionário devido a sua altura em relação ao rio e às suas repetidas cheias. A concretagem foi feita da margem para o centro, em balanços sucessivos e sem auxílio de escoramento. Fato inédito na história do concreto armado. As barras de aço foram emendadas por meio de luvas rosqueadas, durante a construção em balanço. A ponte original foi destruída pela enchente de 1983. O comprimento total da ponte original era 145,50 metros.
O tempo áureo da construção de vias de comunicação em Blumenau foram durante os governos de Paulo Zimmermann e Curt Hering. Em Rio do Sul foi construída a grande ponte de concreto “Curt Hering”. Em 10 de outubro de 1926, foi inaugurada por Victor Konder, presidente do Conselho Municipal de Blumenau, representando no ato o Governador do Estado, a ponte de Indaial sobre o rio Itajaí-Açu. Foi erguida em concreto armado sobre quatro pilares, com cinco arcos, com 6,90 metros acima do nível normal do rio e 175 metros de comprimento, com seis de largura. A concretagem dos pilares necessitou o trabalho de um escafandrista (mergulhador com escafandro).
Além das obras citadas, Emílio Baumgart projetou as mais variadas estruturas para cerca de 500 obras: Reservatórios, hangares para aviões, oficinas, armazéns, flutuantes e mais de uma centena de viadutos e pontes.
Pesquisa e Texto: Giovani Vitória | Jornalista | Informe Comunicação | Assessor de Imprensa da AEAMVI
Fotos: Arquivo Histórico de Blumenau